Não me refiro ao famoso mercado de Ver-o-Peso, em Belém (PA), mas sim ao grande concurso que o Capitão do nosso navio promovia, quando viajavamos para a cidade de Lagos, na Nigeria.
Aquela área era rica em peixes de grande envergadura. As iscas, os anzóis e molinetes eram apropriados para o concurso, conhecido na linguagem marinheira como “ver o peso”. O navio possuía uma balança bem sensível, que auferia o peso com precisão. A competição era bastante acirrada e oferecia uma caixa de uísque ao tripulante que pegasse o peixe mais pesado.
Durante os três dias de fundeio, cada participante fisgou seu peixe. Alguns superavam os outros por questão de poucos gramas, o que tornava a competição mais emocionante.
No terceiro dia, o ajudante de cozinha pescou um pequeno tubarão, cujo peso superou os demais em quase dois quilos e meio. Com grande vantagem numérica, levou o prêmio.
Como todos os peixes participantes do concurso foram para a panela, posteriormente, foi descoberto que o ajudante de cozinha não agiu com lealdade, pois com muita discrição, sem ninguém perceber, abriu o peixe com um corte fino, colocou duas barras de ferro no seu interior, costurou a barriga do peixe com muita habilidade, sem deixar vestígios, e com essa esperteza ganhou o concurso.
Depois da escala na Nigéria, o navio seguiu para East London, Port Elizabeth e Capetown, onde todos os tripulantes desembarcaram do navio e foram direto para o aeroporto, com o intuito de pegar um voo para o Brasil.
Quem conhece as regras internacionais sabe que tripulantes em trânsito podem se valer do fato de serem marítimos, com o direito de exceder no peso de sua bagagem até um total de 40kg.
Todos os tripulantes praticamente foram favorecidos por esse privilégio, exceto nosso amigo ajudante de cozinha, que pagou um bom dinheiro, em razão de sua bagagem ter superado o limite per emitido.
Somente ao chegar em casa, ao abrir a mala, o espertinho xingou a geração de todos os colegas,, pois constatou a existência de duas pesadas barras de ferro. Alguém, com muita discrição, aproveitando-se de um momento de descuido do ajudante, escondeu duas pesadas barras de ferro no interior da sua mala e, junto a elas, um pequeno bilhete irônico, que dizia: “Quem com ferro aufere, com ferro será auferido.”