2307 A população ribeirinha e a navegação pelo Rio Amazonas por RICARDO FALCÃO prático da BAP – Bacia Amazônica Prático

As populações ribeirinhas estão sempre próximas do navio, existe uma grande curiosidade na região e eles pegam canoas e se aproximam. Eu tive já algumas experiências que a gente teve que tomar umas atitudes na navegação por causa disso, e uma delas que me lembra muito bem, que mostra a questão de quanto você pode confiar nos seus equipamentos eletrônicos até que ponto vc pode ou não olhar para fora tem que estar eternamente olhando pela vigia do navio e vendo o que está acontecendo, não é só a eletrônica, um caso que ilustra muito bem isso foi uma vez que eu estava subindo num navio os conterneiros de última geração como todos os conterneiros, numa boa velocidade como fazem por aqui e num dado momento ele tinha um radar que tinha uma função hidráulica , então era um passadiço integrado, nesse tipo de passadiço você fica sentando numa cadeira especial e todos equipamentos ficam em volta de você, você não tem uma circulação tão tranquila tão livre como esse que nós estamos aqui, nesse momento eu baixei, estava fazendo uma navegação visual e o radar estava abaixado e eu percebi que por algum motivo, a minha navegação visual talvez eu estivesse “derivando” eu estava me afastando de uma certa ilha, então peguei e suspendi radar, a hora que suspendeu, tapou toda minha visão de navegação visual, e este momento eu estava conversando com o chefe de maquinas e percebi que a gente estava batendo, corrigi o rumo, falei um novo número para o timoneiro, e o timoneiro colocou o navio na posição correta, eu percebi uma inquietude no chefe de máquinas- ele olhava para proa e olhava para mim…olhava para proa e para mim, eu olhava o radar e falava, não está tudo bem?:! Olhava na navegação eletrônica e falava não tem nada na minha frente, não existe nada, de repente ele perguntou para mim- Isso é normal?? Quando ele falou isso, eu olhei todos os equipamentos, botei a cara para fora e vi exatamente na linha do centro tinha uma canoa com dois pescadores e foi o exato momento que ela sumiu na proa. Não dava tempo de gritar para o timoneiro para tomar nenhuma atitude que não fosse pegar uma manete que esse navio possue e todos os navios possuem que chama: NO FOLLOW UP – ele ignora tudo o que o navio esteja fazendo seja automático, seja manual e o controle passa para tua mão, naquela manete, eu então guinei o navio com toda força, todo leme para bombordo, o navio guinou muito rápido, isso é uma característica do contarneiro, foi sorte também, se fosse um graneleiro não teria dado tempo e os dois pescadores passaram completamente atônitos, olhando para cima, na canoa, a canoa balançando loucamente, ele passou um palmo do navio o tempo inteiro, quando ele chegou próximo da descarga eu guinei completamente para o outro bordo, eu tive que jogar o navio completamente para o outro banco, para poder salvar essas pessoas….A LIÇÃO QUE FICA:
O equipamento eletrônico não consegue captar essas situações, uma das funções da Praticagem dentro do tripé que ela é responsável…esse apoio constante que a Praticagem tem que dar a Marinha do Brasil, quando ela exerce sua função o tripé é:
1. A salvaguarda da vida humana
2. 2. Proteção ao meio ambiente
3. Segurança da navegação
Então nesse momento eu estava garantindo a segurança da navegação não havia nada que fosse atrapalhar a navegação. O navio com milhares de toneladas tocar naquela canoa, teria simplesmente destruído e o navio não vibra, não iria acontecer nada nem iriamos perceber que aquilo tinha acontecido, mas a vida daqueles dois pais de família, o que iria acontecer?
É nossa função tomar conta de qualquer ser vivo que esteja navegando em nossas aguas e isso está no nosso compromisso com o que é de tão caro na Autoridade Marítima Brasileira