Uma pequena população de botos, com aproximadamente 90 indivíduos, habita o estuário da Lagoa dos Patos e áreas costeiras adjacentes. Esta é a maior população conhecida da espécie, que foi recentemente classificada como ameaçada de extinção na Lista Vermelha de Espécie Ameaçadas do Brasil e também na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza – IUCN. Os botos utilizam a região durante todo ano para realizarem suas atividades vitais (reprodução, cria de filhotes, alimentação e socialização). Embora distribuam-se por uma ampla extensão da costa, os botos são encontrados preferencialmente nas proximidades da boca da barra do Rio Grande e águas internas estuarinas. O estuário da Lagoa dos Patos é um ambiente muito produtivo, por isso a vida se concentra neste local.Os botos tendem a se agregar na entrada do estuário onde há declives acentuados, ocorrência de fortes correntes de maré com entrada de água salgada que propiciam a maior densidade de presas e facilitam sua captura. Além disso, o estuário proporciona um ambiente protegido contra a ação de predadores (e.g. tubarões), o que é de suma importância para aumentar a probabilidade de sobrevivência dos filhotes nos primeiros anos de vida.Iniciado da década de 70 por pesquisadores do Museu Oceanográfico da Universidade Federal do Rio Grande, o Projeto Botos da Lagoa dos Patos busca promover a conservação dos botos no sul do Brasil através de ações de educação ambiental e de uma investigação detalhada sobre sua história natural. Os botos enfrentam diversos desafios para sobreviver em meio ao desenvolvimento humano. Os principais problemas de conservação enfrentados pelos botos são a captura incidental durante operações ilegais de de pesca de emalhe e redes fantasmas, a degradação do habitat, colisão com embarcações e poluição química e acústica. Dentre estas, a captura incidental – consequência do aumento do esforço pesqueiro ilegal devido a sobre-exploração dos estoques de peixes – é considerada a mais preocupante atualmente. Estima-se que a população de botos que habita o estuário da Lagoa dos Patos e costa adjacente esteja atuando no seu limite biológico de reposição e que, um pequeno aumento nas taxas de mortalidade por causas não naturais possa causar o seu declínio em médio prazo. Por esta razão, o projeto monitora regularmente a população através do uso de múltiplas técnicas, como por exemplo a foto-identificação. A partir da foto-identificação é possível reconhecer cada individuo através de suas marcas naturais na nadadeira dorsal, permitindo estimar o tamanho da população a cada ano, verificar tendências no tamanho populacional, estimar o número de filhotes que são produzidos, de quanto em quanto tempo uma fêmea dá a luz a um filhote, quanto tempo um mãe permanece com o seu filhote, quantos indivíduos sobrevivem de uma ano para o outro, quantos animais morrem e qual o estado de saúde da população. Ao mesmo tempo, durante os monitoramentos embarcados, pesquisadores estudam o comportamento e a comunicação dos botos e como os ruídos ambientais impactam na sua comunicação e seleção de habitat. Outras atividades científicas como estudos sobre a genética, estrutura social, mortalidade de animais encontrados na praia e coleta de material biológico, também fazem parte do monitoramento sistemático que vem sendo conduzido. Somente através deste olhar permanente e de longo-prazo torna-se possível compreender como estes animais de vida longa (podem viver até 50 anos) respondem as ações humanas e propor medidas coerentes que possam mitigar os seus efeitos negativos, caso seja necessário. Pela busca do deste desenvolvimento sustentável, o projeto também trabalha com a inclusão dos atores sociais envolvidos para que estes processos de conservação sejam bem-sucedidos, uma vez que tais processos normalmente são balizados por restrições totais ou parciais de atividades e que isso pode impactar na vida das comunidades, afetando seus meios culturais, sociais ou mesmo econômicos – e isso não pode ser ignorado em hipótese alguma.É importante ressaltar que a manutenção deste monitoramento é de extrema dificuldade devido a falta de investimento em pesquisa e formação de pessoal. Este monitoramento de longo-prazo só é possível graças ao número expressivo de voluntários que compõe a qualificada e incansável equipe de pesquisadores do projeto e também ao apoio financeiro e/ou logístico continuado de múltiplas instituições nacionais e internacionais, dentre as quais destacamos para o momento: Marinha do Brasil, Praticagem da Barra do Rio Grande, IBAMA, PATRAM, Yaqu Pacha (Alemanha), Museu Oceanográfico (FURG), Kaosa Rio Grande, Cetacean Society International (EUA), Refinaria de Petróleo Rio Grandense, Fundação Grupo O Boticário de Proteção a Natureza, Porto do Rio Grande, Bianchini S.A., Conselho do Meio Ambiente do Rio Grande (COMDEMA) e Prefeitura do Município do Rio Grande…………………………………………………………………………………………………………………………………………..EQUIPEDr. Lauro Barcellos (Diretor do Complexo Museus – FURG)Dr. Pedro Fruet (Coordenador Lab. Mamíferos Marinhos Museu Oceanográfico – FURG)Dr. Eduardo Secchi (Ecomega – FURG)Dr. Rodrigo Genoves (Pesquisador do Museu Oceanográfico – FURG) Dra. Juliana Di Tullio (pós-doutoranda Oc. Biológica/FURG) Biol. Andrea Milanelli (mestranda em Oc. Biológica-FURG)Oc. Liane Dias (pesquisadora)Biol. Débora Dias (pesquisadora) Ricardo Assumpção (estagiário)Raphaela Mota G. Gurgel (estagiária)Laís G. V. Antunes (estagiária)Samara Junqueira de Andrade (estagiária)………………………………………………………………………………………………………………………………………….Mais informações podem ser acessadas em:www.botosdalagoa.com.brFonte: Praticagem da BarraMuseu Oceanográfico “Prof. Eliézer de C. Rios”
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